MONUMENTOS DE INTERESSE HISTÓRICO

Santuário de Nossa Senhora do Carmo

Localização
O Monte do Carmo está situado na Herdade da Venda, outrora conhecido por Vale da Fornalha, extensa propriedade pertencente a Martins Lopes Lobo de Saldanha, alcaide-mor do Castelo Ventoso, comendador da Ordem de Cristo, governador e capitão-general da capitania brasileira de São Paulo e fundador, na segunda metade do século XVIII, da vila de Azaruja.
Arquitetura
A Ermida de Nossa Senhora do Monte do Carmo representa um modelo de construção típico da época áurea das peregrinações religiosas, dos reinados de D. José e de D. Maria I, situada a cerca de 1,5 Km de Azaruja. No local terá existido uma pequena ermida anterior às construções setecentistas que hoje podemos ver, habitada por eremitas e onde pontuava uma imagem pintada de Nossa Senhora do Carmo. Segundo as lendas locais, já após o abandono desta ermida e ermitério pelos ascetas deu-se a cura milagrosa de uma mulher que invocara o auxílio da imagem, após o que esta se tornou destino de peregrinação regional. Martins Lopes Lobo de Saldanha cedeu então o terreno para a construção de um novo templo, reservando para si e seus descendentes o respetivo padroado.
A estrutura, cuja obra foi ordenada em 1757 por D. Frei Miguel de Távora, arcebispo de Évora, estavam terminadas no ano seguinte, embora os acabamentos interiores ainda se tenham prolongado por alguns anos. Dentro do recinto da ermida foram ainda erguidos quatro edifícios térreos ou de dois pisos, alguns com cave, destinados a albergar um eremita, zelador da capela, e os peregrinos que aí acorriam. Na realidade, a ermida tornou-se um importante centro de romaria desde a sua construção e durante todo o século XIX, atraindo ainda hoje muitos visitantes.

A ermida, de nave única, mantém-se aberta ao culto. Possui planta octogonal, típica dos santuários de peregrinação, acessível através de portal em mármore encimado por janelão retangular. O interior encontra-se integralmente revestido a estuque policromado, com altares em talha dourada de estilo rococó. As paredes exibem cerca de 1500 ex-votos, testemunhos da devoção dos romeiros.

O mais antigo ex-voto é datado de 1754, sendo o agradecimento de alguém que foi atacado por um ladrão que lhe cravou uma faca na barriga, quando tentou roubar-lhe a mula.

Reza a tradição que “(…) descobriu-se uma mulher que chegando ao tal monte casinha (o oratório abandonado pelos ermitas), sem saber o que nela havia, assim que viu a imagem da senhora a venerou e lhe pediu remédio duma enfermidade que padecia e sentiu-se logo melhor, e daí a poucos dias, inteiramente sã, publicou o sucesso que divulgado fez concorrer várias pessoas àquele lugar solicitando remédio para os seus males.”

Muitas outros milagres são evocados, como o de uma mulher que quando se dirigia à ermida, a fim de ir rezar, deparou com o que pensava ser uma pedra e sentou-se a descansar. A pedra era afinal uma cobra e, com receio do que lhe poderia suceder, fez das fraquezas forças gritando “Valha-me Nossa Senhora do Carmo”, tendo acontecido o denominado “milagre da cobra”, uma vez que esta morreu.
A pele que se atribui à cobra encontra-se exposta na Capela do Santuário.

Os restantes edifícios, datados do último terço do século XVIII e adaptados para receber turistas, incluem a Casa dos Caseiros e a Pousada Pequena, ambas térreas e dotadas de cave, e ainda a Pousada Grande e a Casa Grande, esta última acrescentada de uma construção moderna. No conjunto foram conservados muitos elementos arquitetónicos originais, como arcos, abóbadas, janelas e algumas carpintarias, entre outros. (Leite, 2022)

A Festa Litúrgica em Honra de Nossa Senhora do Carmo, com Eucaristia e Procissão, realiza-se no Domingo de Pentecostes e, no dia 10 de junho, continua a realizar-se a Celebração dos Combatentes, por um grupo de militares que estiveram na Guerra do Ultramar, em agradecimento por não ter falecido nenhum militar da freguesia.

Também se realiza, no segundo fim-de-semana de setembro, a Feira Anual de Azaruja que nasceu como Romaria em Honra de Nossa Senhora do Carmo, há mais de 200 anos.O Monte do Carmo foi convertido em Hotel Rural de 4 estrelas, em 2006, que permitiu a recuperação de um espaço que se encontrava em estado avançado de degradação, e que atualmente já se encontra desativado. Este imóvel encontra-se classificado como Conjunto de Interesse Municipal, desde 2013.